Ao contrário do que a grande maioria das pessoas pensa, a famosa questão “ Foi uma simples luxação, Doutor? “ apresentada pelos pacientes nos pronto atendimentos e diversas clínicas ortopédicas, pode trazer conseqüências muito importantes aos pacientes, nos casos de luxações verdadeiras, e não contusões.
Primeiramente, deve-se conceituar que luxação significa a perda da congruência articular, ou seja, quando uma articulação sai do lugar. Para isso ocorrer, existe a lesão de várias estruturas, que podem ou não estar associadas a condições predisponentes do próprio paciente. O cuidado com esse tipo de lesão deve ser redobrado, e imediatamente diagnosticado, para ser realizada a redução da articulação ( colocar no lugar ) e tratamento consecutivo.
No ombro, devido a ampla movimentação dessa articulação, existe a dependência tanto de estruturas estáticas de estabilização ( conformação óssea, cápsula articular, ligamentos, labrum glenoidal ), quanto da estabilização dinâmica, realizada pela musculatura adjacente. A luxação mais freqüente na população jovem e ativa é a luxação traumática, decorrente de uma queda ou trauma.
Normalmente, nas lesões traumáticas, ocorre a lesão de estruturas, sendo uma das mais importantes a avulsão do labrum ( arrancamento ) . O labrum é uma membrana de fibrocartilagem ao redor da glenóide ( parte articular da escápula ) que tem como função aumentar a capacidade de contenção articular por parte da glenóide. Juntamente com a lesão labral, ocorre lesão de a cápsula articular, o que pode levar à tão famosa instabilidade ou luxação recidivante do ombro, onde traumas de menor intensidade podem levar a episódios de luxação.
Nos casos em que é evidenciada a lesão do complexo cápsulo labral e não há deformidade óssea ( pelo mecanismo de trauma ) importante, existe espaço para o tratamento artroscópico da luxação recidivante. Por esse método, conseguimos abordar a lesão através de técnica minimamente invasiva, sem ter que lesar ainda mais outras estruturas importantes na estabilização do ombro.
Normalmente, são utilizadas âncoras de fixação com fios com as quais se consegue uma reinserção cápsulo-labral junto a borda óssea da glenóide, propiciando uma cicatrização desse tecido e reintegração da estabilidade. Nesse tipo de lesão, a reabilitação tem importância crucial para garantir retorno adequado ao esporte.
A reabilitação adequada é tão importante quanto o ato cirúrgico, não devendo ser negligenciada tanto pela equipe multidisciplinar de atendimento, quanto por parte do paciente, que deve se manter motivado para o retorno efetivo e mais seguro às suas atividades.